quinta-feira, 5 de março de 2009

Companhia Musicada

Gosto de filmes musicados. Quando falo musicados quero dizer sublinhados em sua maioria por um fundo musical que eleva a trama, dando o ar muitas vezes de tristeza, solidão, descompasso, tempo que passa. Não se trata da trilha sonora tão conhecida em que o som sobe e toma toda a tela. Me refiro a um estilo todo pessoal de marcar um filme. Que me atrai pelo simples fato de que ele conduz a trama e faz com que o público sinta-se embalado pela melodia. Não é fácil inserir esse tipo de estratégia nos filmes. É necessário uma trama que case perfeitamente com a canção escolhida e que uma não sobreponha a outra. É preciso talento para fazer isso.
Talento que pode ser percebido na direção do excelente filme, Brokeback Mountain, dirigido Ang Lee, em que a canção de fundo faz parte de quase toda a oratória fílmica. Outra película que me veio a mente é o magistral clássico, encabeçado por Elizabeth Tailor e Richard Burton, "Quem Tem Medo de Virgínia Woolf?", direção de Mike Nichols, em que a trama em vários momentos tem o recheio certeiro de uma leve e doce canção de fundo, enquanto as personagens se degladiam em cena.
O filme O Leitor, dirigido por Stephen Daldry e estrelado pela atriz ganhadora do Oscar por este mesmo filme, Kate Winslet, é um caso recente desse tipo de abordagem ou de colagem ou representação da trama no filme. O Leitor é delicadamente narrado por uma canção que surge sorrateiramente lá do fundo e vai nos guiando e emocionando diante do que nossos olhos veem. Espetácular.

Filmes que não se Trocam - Parte I

ATroca, 2008
Pensar em uma mãe zelosa, com seu único filho, morando sozinhos em uma Los Angeles da década de 20, conrropinda por um sitema policial fajuto e desleal e onde a mulher nem de perto chegara a conquistar direitos com os quais pudessem gritar e serem ouvidas, é algo difícil de suportar. Ainda mais quando nos deparamos como uma história real, em que essa mesma mãe se vê em apuros com o desaparecimento do seu filho - e o estado para mostrar eficiência e vender a imagem de competente para a opinião pública - lhe devolve o "filho" sumido.
Retiraria as aspas se o garoto recuperado não fosse parte integrante de um esquema marginal e desumano para tentar convencer e exibir o brilho de uma estrela sintilante no peito, que os policiais americanos tanto adoram. As aspas servem para mostrar que o tal garoto em nada lembra o filho desaparecido. Elas servem também para mostrar que se trata de uma farsa armada pela polícia afim de recuperar o prestígio. No desespero e cercada de repórteres, a triste mãe aceita o embrulho e o leva para casa. Resultado... O bomba explode e o embrulho é devolvido, virando caso de repercussão nacional.
O filme a Troca estrelado por Angelina Jolie e que conta com a participação super especial de Jonh Malkovich, nos mostra os dilemas enfrentados por essa mulher na busca desenfreada em recuperar seu filho, com uma esperança desafiadora de que ele estaria ou esteja vivo. O filme é tocante e abala os sentimentos dos mais brutos dos brutos. Faz ruir a frase de que "homem não chora" e confirma a seguinte de que: as mulheres são demasiadamente choronas. Em a Troca o choro é permitido, porque ele vem de um sentimento mútuo e que atinge a todos: a perda. O desaparecimento de um ente querido.
Mas o que também chama a atenção no filme além do seu enrredo é a pontuada interpretação de Jolie. Digo pontuada porque ela em mãos tem uma personagem rica em todos os sentidos e emoções. Do clichê devastador que se traduz em gritos, choros compulsivos, desmaios, ataques de desespero - o que poderia e é típico de uma situação extrema como essa e que tranquilamente ela(Jolie), poderia se fazer valer afim de interpelar à platéia fazendo-os derreterem em lágrimas e as maquiagens serem eternamente borradas.
Mas não. A mulher de Brad Pitt, mãe de seis filhos não usou desse subterfugio e preferiu conter-se em momentos que oscilavam entre o medo e a coragem; entre a esperança e a temperança... sem perder jamais a dose certa da emoção no tempo correto, na fala mais acertada. A interpretação de Angelina Jolie é magistral porque é demasiadamente humana e não apenas cinematográfica. Ela percebe no silêncio seus grandes momentos. A sua dor é reparada através dos olhares, do fransir de testa, no andar compassado. A esperança que ela dá a personagem que foi real, deve ser fruto de uma pesquisa que pretendia ser fiel a mãe de verdade. O filme envolve do início afim também por lidar com outro sentimento terrível a qualquer ser humano. O sentimento de injustiça. A revolta em estar sendo enganado.
Todos esses são ingredientes fortes que fazem do filme a Troca, uma excelente película que mostra uma atriz, ganhadora de um Oscar, pelo filme Garota Interrompida, em que naquele tempo mostrava passos de uma grande atriz e que agora pôde apresentar todo esse crescimento profissional. O Oscar poderia ser dela sim! Mas não foi e chegou as mãos de uma outra, que maliciosamente envolve a todos com uma dor e uma solidão contagiante que nos desperta até compaixão, frente a uma interpretação repleta de emoções no filme "musicado" O Leitor, dentro de um tema que até hoje causa repulsa, dor, vergonha e revolta.